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Teste de coronavírus do presidente brasileiro Bolsonaro mostra como a mídia também pode desinformar

Verificando Os Fatos

Em 7 de março de 2020, foto do presidente Donald Trump aperta as mãos antes de um jantar com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro em Mar-a-Lago em Palm Beach, FL (AP Photo/Alex Brandon, FIle)

Na busca do próximo grande furo sobre o novo coronavírus, os jornalistas devem deixar para trás – de uma vez por todas – o jornalismo disse, disse ela. Artigos baseados em reportar outros artigos devem terminar. Reportagens e dados devem continuar sendo os pilares do jornalismo para manter a credibilidade e prevenir situações como a que vimos na manhã de sexta-feira.

Entre 9h e 11h do leste, The Guardian (United Kindom), CNA (Taiwan) e Fox News (Estados Unidos) “informaram” que o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, havia testado positivo para o coronavírus de 2019 e lembrou ao público que havia conhecido com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Flórida no início desta semana.

A avalanche de fotos mostrando Bolsonaro e Trump apertando as mãos em Mar-a-Lago inundou os canais do WhatsApp e as redes sociais. Algumas dessas imagens traziam legendas sugerindo que o presidente dos EUA precisava ser testado para a COVID-19 o mais rápido possível, assim como o vice-presidente Mike Pence, que também havia se encontrado com Bolsonaro.

The Guardian e CNI, no entanto, publicaram seus artigos com base em uma única matéria — nota publicada pelo colunista Leandro Mazzini em O Dia , um jornal muito conhecido do Rio de Janeiro.

Às 9h55, a manchete do site O Dia foi certeira: “Primeiro exame de Bolsonaro testa positivo para coronavírus”.

No artigo, Mazzini não mostrou os resultados nem revelou suas fontes. Mas isso não impediu o The Guardian de repostar a matéria com a seguinte manchete: “O presidente brasileiro Jair Bolsonaro ‘testa positivo para coronavírus’”.

A partir daí, a história se espalhou, com versões quase copiadas e coladas em sites como Business Insider e CNA.

O fato de, em menos de duas horas, informações críticas sobre a saúde de dois presidentes terem atravessado o globo com base em um artigo, escrito em português e publicado por um site, é definitivamente assustador para um fact-checker. O jornalismo deve ser muito mais do que copiar e colar.

Às 10h54, no leste, as coisas pioraram. O Dia suavizou a manchete sem explicar o porquê ou deixar uma correção. “Primeiro exame de Bolsonaro teria testado positivo para coronavírus.” (“Bolsonaro pode ter testado positivo em sua primeira análise.”.) Um grande passo para trás. E a mídia começou a perceber que, bem… talvez eles devessem ter feito algumas ligações para verificar a alegação com a família de Bolsonaro.

Em seguida, a Fox News publicou um artigo dizendo que seus repórteres entraram em contato com Eduardo Bolsonaro, filho do presidente brasileiro, e obtiveram a confirmação de que Jair Bolsonaro era positivo para COVID-19.

Mas o jornalismo ele-disse, ela-disse golpeou mais uma vez. Cerca de 40 minutos depois, as páginas oficiais de Bolsonaro no Facebook e Twitter negaram a confirmação e disseram que os resultados dos testes foram negativos.

Dê uma olhada em como tudo isso se parece na página de cobertura ao vivo do Guardian para o COVID-19 e pense por um segundo se isso gera mais confusão e desinformação.

Vamos aproveitar a oportunidade que isso está dando ao jornalismo para nos lembrar de manter e elevar nossos padrões de qualidade e credibilidade.

Cristina Tardáguila é diretora associada da International Fact-Checking Network e fundadora da Agência Lupa. Ela pode ser contatada no e-mail.